Dácio Nitrini Lança Cásper Líbero, Jornalista Que Fez Escola


Obra chega às livrarias pela Editora Terceiro Nome

Cásper Líbero, jornalista que fez escola é mais do que uma biografia de um importante e controverso protagonista da imprensa e da história brasileira. É um retrato do cenário político, econômico e cultural do país nas primeiras cinco décadas do século 20 que ajuda a entender os conturbados dias atuais. A obra do jornalista Dácio Nitrini, será lançada em 5 de dezembro na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis, pela editora Terceiro Nome, em formato impresso e digital.

O autor realizou pesquisas em antigas publicações na Biblioteca Nacional, no Arquivo Público do Estado e em livros de memórias de contemporâneos de Cásper Líbero garimpados em sebos. Trata-se de criterioso trabalho de reconstituição de um personagem que tem nome muito famoso mas vida desconhecida. O livro de Nitrini revela a curiosa trajetória de Cásper reproduzindo páginas de jornais da época, documentos e fotografias sobre a vida do empresário que começou a carreira como repórter policial em 1910 e apenas oito anos depois comprou o jornal pré-falido no qual trabalhava.

Um dos fatos inusitados é a estratégia de Cásper Líbero em realizar a primeira transmissão ao vivo de futebol durante o Campeonato Sul-Americano em 1922. O visionário Cásper providenciou a instalação de “cornetas”, no alto do prédio de seu jornal, A Gazeta, situado na rua Líbero Badaró, em São Paulo, que ficava rodeado pela multidão interessada pelo jogo. Os equipamentos reverberavam o jogo lance a lance, narrado por telefone do Rio de Janeiro, com a “locução” de Leopoldo Sant´Anna. Talentoso criador de eventos de marketing, sempre em busca de maior tiragem da Gazeta, foi também Cásper Líbero quem criou uma das mais tradicionais corridas de rua do país – a Corrida Internacional de São Silvestre. Em 1925, foram 62 atletas inscritos. Este ano, a competição receberá nada menos que 35 mil inscrições de atletas de várias partes do mundo.

Amor, política e legado

O livro também traz relatos sobre sua companheira, a francesa Marguerite Augustine Leboucher, com quem viveu por 18 anos. Separada de seu marido, o economista Eugenio Gudin Filho, a misteriosa Maggy e Cásper se conheceram no período em que Cásper foi nomeado diretor da primeira sucursal do Estado no Rio de Janeiro.

No cenário político, o leitor poderá viajar, por exemplo, pelos meandros da Revolução Constitucionalista de 1932, na qual o jornalista e empresário foi um dos líderes. Na ocasião, Cásper desafiou a censura ao publicar em destaque na Gazeta a íntegra do poema “Minha Terra, Minha Pobre Terra”, de Ibrahim Nobre. No entanto, seu pragmatismo para manter a Gazeta o levou a aderir a Getúlio Vargas, o antigo adversário.

Cásper foi um modernizador não só da estrutura gráfica e técnica como do conteúdo editorial e do estilo de redação das notícias. Ao morrer, em 1943, em um desastre de avião, novamente surpreende a todos: em testamento, deixa seus recursos para a criação de uma fundação – a Fundação Cásper Líbero – que deveria instalar a primeira escola de jornalismo do Brasil, além de manter sua rádio e seu jornal e remunerar os principais funcionários com o lucro do empreendimento.

Dácio Nitrini explica porque resolveu escrever sobre Cásper. “Decidi escrever a biografia quando era diretor de jornalismo da TV Gazeta. Fiz um trabalho pessoal, independente da Fundação Cásper Líbero, ao perceber que havia, mesmo entre alunos e professores da faculdade de jornalismo, pouquíssimo conhecimento sobre o homem que havia deixado sua fortuna para manter aquela estrutura, criar a primeira escola de jornalismo brasileira, lançar a Corrida de São Silvestre, tornar poderoso o jornal A Gazeta, que meu pai lia diariamente na década de 50, etc. Ele é sempre apresentado como herói da Revolução Constitucionalista de 32, seus despojos estão no Obelisco do Ibirapuera. O livro mostra que foi bem além, inclusive tornando-se forte aliado do ditador Getúlio Vargas, seu tradicional adversário.”

“Com a biografia de Cásper Líbero, a Terceiro Nome avança no seu trabalho com temas que resgatam a nossa história. Neste final de ano, além do livro de Dácio Nitrini, uma obra de jornalismo e política, também estamos lançando o livro Irredutivelmente liberal – política e cultura na trajetória de Júlio de Mesquita Filho, de Roberto Salone, sobre o diretor do Estadão que foi contemporâneo de Cásper. O país está querendo redescobrir o seu passado, em busca de um futuro melhor”, afirma Mary Lou Paris, editora da Terceiro Nome.

Sobre o autor:

Dácio Nitrini é paulistano. Nasceu em 1951. Entrou para o jornalismo no início dos anos 70, período de dura censura exercida pela ditadura civil-militar. Nessa época atuava na imprensa alternativa, em jornais como Extra Realidade Brasileira, O Grilo e EX-. Foi repórter do semanário Aqui São Paulo, último jornal pertencente a Samuel Wainer. Em seguida trabalhou no Estadão, como repórter de Geral, destacado para cobrir o renascente movimento estudantil na fase inicial da abertura política. Cobriu a histórica invasão da PUC-SP pelas forças policiais. Na Rádio Globo, atuou como repórter e produtor do programa SP Zero Hora, dirigido por Goulart de Andrade, de onde se transferiu para o Globo Repórter, sendo repórter-editor de documentários. De volta à imprensa escrita, de 1980 a 1988, na Folha de S. Paulo exerceu as funções de repórter especial, editor de Cidades, secretário de redação, chefe da Agência Folhas. Participou da chefia das coberturas da campanha Diretas-Já e da morte de Tancredo Neves. A partir de 1988 voltou para o setor de telejornalismo. Participou da equipe que criou o TJBrasil, do qual foi diretor executivo, o primeiro telejornal a possuir um âncora com independência de opinião na tv brasileira. Sete anos depois, implantou esse mesmo projeto na TV Record, de onde saiu em 2005. Na TV Cultura paulista, dirigiu a cobertura eleitoral de 2006. Foi diretor de jornalismo da TV Gazeta-SP de 2010 a 2018. Diplomado pela Faculdade Cásper Líbero, turma de 82, foi professor da escola em 1985 e 1986. Ganhador do Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, é co-autor, com Edmilson Lucas da Silva, de Matar ou morrer, autobiografia de um menor abandonado e coordenador da edição fac-similar do jornal EX-, publicada pela Imprensa Oficial de S. Paulo.

Sobre a Editora Terceiro Nome:

Criada em 1998, o principal foco da Terceiro Nome é a publicação de livros com temas relacionados ao Brasil, em especial nas áreas de humanidades e no diálogo entre textos e imagens. Dirigida por Mary Lou Paris, a editora já recebeu vários prêmios e indicações, entre os quais o Jabuti para livros como, de Francis Hime; Diário de navegação de Pero Lopes de Sousa, de Vallandro Keating e Ricardo Maranhão; De Anita Malfatti à primeira Bienal, de Paulo Mendes de Almeida; Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil, de Renata Meirelles; O Brasil visto do mar sem fim, de João Lara Mesquita; Alfredo Mesquita: um grã-fino na contramão, de Marta Góes e O súdito, de Jorge Okubaro. Também ganhou o APCA pelos livros Vilanova Artigas e A mão livre do vovô, que fizeram parte do projeto da memória de 100 anos do arquiteto.

Cásper Líbero, jornalista que fez escola
Autor: Dácio Nitrini
Páginas: 208 páginas
Preço: R$ 46,00

Editora Terceiro Nome