• Home »
  • Destaques »
  • “Algoritmo da Vida” Identifica Nas Redes Sociais Perfis Com Sintomas De Depressão

“Algoritmo da Vida” Identifica Nas Redes Sociais Perfis Com Sintomas De Depressão

Kurt Cobain, Ian Curtis, Nick Drake, Torquato Neto, Chris Cornell, Keith Flint, Champignon. Esses músicos têm em comum a depressão e o suicídio. No ano passado, 1 milhão de indivíduos no globo tiraram a própria vida. Ou seja, uma morte cada 40 segundos.

Esses dados alarmantes mostram que suicídio causa mais vítimas do que as guerras, homicídios e conflitos civis – todos eles somados. Mais preocupante é o fato de que para cada suicídio, 20 pessoas já tentaram fazer o mesmo, segundo dados do estudo Preventing Suicide: A Global Imperative da Organização Mundial da Saúde.

O cenário nacional não é diferente. Todos os dias, 32 brasileiros tiram a própria vida. Em 2018, foram 11 mil vidas. Segundo o Ministério da Saúde, os números também revelam que o suicídio aumentou 20% nos últimos cinco anos entre jovens de 15 a 19 anos. Essa já é a quarta causa mais frequente de morte entre jovens no País.

Estudos de especialistas em saúde mental* indicam que pessoas em depressão usam recorrentemente um determinado grupo de palavras, como uma espécie de ‘linguagem da depressão’ para indicar, mesmo em estágios iniciais, a ocorrência da doença. Naturalmente, esses sinais também se fazem presentes no comportamento das pessoas nas redes sociais.

Baseado nesses dados a agência Africa criou o Algoritmo da Vida, projeto assinado pela Rolling Stone Brasil. O sistema funciona da seguinte maneira: foi desenvolvido um algoritmo capaz de identificar uma enorme variedade de palavras, expressões e frases que podem indicar sintomas de depressão nas postagens públicas dos usuários no Twitter. Após essa primeira fase de identificação da sequência de palavras e expressões, é realizada uma checagem cuidadosa por uma equipe treinada, para considerar contexto, ironias e recorrência de termos e periodicidade. Assista aqui o vídeo com mais detalhes sobre o projeto: https://www.youtube.com/watch?v=tmkESsucvHY

Após isso, quando a ferramenta confirmar o potencial de usuário filtrado pelo algoritmo, um perfil criado especificamente para a ação – e administrado por um time capacitado – entra em contato por meio de mensagem privada e indica o telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV), referência nacional no atendimento a pessoas com depressão.

“O desejo de tirar a própria vida é sempre ambíguo. A pessoa não sente que a vida vale a pena, mas gostaria de encontrar pelo menos um fio de esperança que a ajudasse a seguir em frente. Iniciativas como o Algoritmo da Vida são extremamente importantes por causa disso – saber que foi ouvido e que pode haver outra saída é transformador para um suicida potencial. Não tenho dúvidas que vidas serão salvas e sofrimento será poupado com a ajuda dessa ferramenta” conta o psiquiatra Daniel Barros, professor da Faculdade de Medicina da USP e consultor do projeto.

“A Rolling Stone, como um veículo voltado à cultura pop e, principalmente, música, lida todos os dias com a depressão ou seus sintomas. E isso é alarmante”, diz Pedro Antunes, editor-chefe da Rolling Stone Brasil. “Muitos músicos pediram ajuda nas suas músicas. Veja o caso de Kurt Cobain ou de Chester Bennington, do Linkin Park, por exemplo. Vidas chegaram ao fim de forma precoce por conta da depressão, basta lembrar de Chris Cornell. Tudo o que pudermos fazer para diminuir esse número precisa ser nossa prioridade. É uma responsabilidade social que devemos ter. Cada vida salva é uma vitória”, completa.

De acordo com Rodrigo Cassino, COO da Bizsys – produtora de tecnologia responsável por desenvolver o sistema que identifica os tweets relacionados com depressão -, a maioria das postagens identificadas têm um padrão comum. “Com tantos recursos tecnológicos a nossa disposição e com tantas pessoas clamando por socorro nas entrelinhas das redes sociais o desenvolvimento do Algoritmo da Vida humaniza a tecnologia e nos passa um sentimento de dever cumprido, de ajuda ao próximo”, completou Cassino.

O Algoritmo da Vida está em operação desde fevereiro e detectou quase 300 mil menções que potencialmente utilizam a linguagem da depressão. O perfil já entrou em contato com esses usuários e indicou a melhor maneira de ajudá-los a encontrarem apoio profissional. Um deles, referência sobre o tema, é o CVV (ligue 188).

Fontes:

Prevent suicide: a global imperative, OMS. https://bit.ly/2t9xMYu

Matéria da revista de ciência Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-017-08307-0

* Referências:

Predicting Risk of Suicide Attempts Over Time Through Machine Learning, dos autores Colin G. Walsh, Jessica D. Ribeiro, e Joseph C. Franklin, da Association of Psychological Science da Florida State University. https://bit.ly/2DwOYgM

In an absolute state: elevated use of absolutist words is a marker specific to anxiety, depression and suicidal ideation, dos autores Mohammed Al-Mosaiwi and Tom Johnstone Department of Psychology, School of Psychology and Clinical Languages, University of Reading. https://bit.ly/2UGhySu